Você já sofreu manterrupting? Bora saber mais sobre isso
Será que você já sofreu manterrupting? Te explicaremos o significado desse conceito e como agir em situações de manterrupting. Vem saber mais sobre o tema!
Uma autora norte-americana chamada Rebecca Sonit conta em seu livro “Os Homens Explicam Tudo Para Mim” a seguinte situação pela qual passou: um homem a interrompeu e tentou explicar sobre o que se tratava o livro que ela mesma escreveu. Um constrangimento, não? Algo que pode ser definido em duas expressões: mansplaining e manterruping.
Mansplaining, como já explicamos em outro artigo, refere-se ao ato de um homem explicar algo que já é do conhecimento de uma mulher, supondo que entende mais do assunto do que ela. Isso simplesmente pelo fato de ela ser mulher e, por consequência histórica, ser socialmente “inferior” (em um olhar de uma sociedade machista, claro).
Manterrupting
Agora, chegou a vez de destrinchar esse outro termo, o manterrupting, que tem ganhado popularidade nos últimos tempos, justamente por ser muito mais comum do que gostaríamos. Vem entender o que é o manterrupting.
O que é manterrupting?
Sabe quando você está dizendo algo e, antes mesmo de concluir seu pensamento, um homem te interrompe para completar, corrigir, repetir ou simplesmente ignorar completamente o que você estava falando? Difícil – se não impossível – encontrar uma mulher que não vivenciou isso. Pois esse é o famoso manterrupting.
Entenda como ocorre
Para entender a origem da expressão, vamos à explicação linguística. A palavra é uma junção de “man” (homem, em inglês) e “interrupting” (interrupção, em inglês) e, em uma tradução livre, quer dizer “homens que interrompem”.
Quando dizemos que isso é mais presente no nosso dia a dia do que até percebemos, não é exagero. Alguns estudos comprovam isso.
Em uma das primeiras pesquisas sobre o tema, chamada Sex Roles, Interruptions and Silences in Conversations, foram coletados 31 diálogos gravados em lugares públicos como cafés, farmácias e universidades.
A partir dessas gravações, foi feita uma análise minuciosa de interações entre homens e mulheres, mulheres com mulheres e homens com homens. O resultado obtido é que nas conversas entre pessoas do mesmo gênero aconteceram sete interrupções em média. Já nos diálogos entre homens e mulheres foram 48 interrupções – 46 delas feitas por um homem, no meio da fala de uma mulher.
Outro estudo, este publicado pela Northwestern University School of Law, concluiu que a interrupção do discurso de mulheres é 18 vezes maior do que de homens na Suprema Corte dos Estados Unidos. Mas podemos dizer? Acreditamos que isso aconteça até mais vezes, viu?
Como agir?
Nos interromperem é algo tão introjetado nessa cultura machista que, muitas vezes, não há a percepção da prática. É o famoso “mais do mesmo”. E por isso o manterrupting acaba sendo tão comum.
Um exemplo que vale a pena ser citado aconteceu em 2017, nos Estados Unidos. Estava acontecendo um dos mais importantes eventos de física do mundo. O grupo era composto por cinco físicos, além do mediador, também homem, e uma única mulher, a física Veronika Hubeny.
Uma outra mulher na plateia percebeu que Veronika nunca conseguia concluir uma frase, sendo sempre interrompida por um dos homens, incluindo o mediador. O incômodo foi tamanho que ela se levantou e gritou: ““Deixe-a falar!!!”. Só a partir de então deram voz à física.
Sabe o que chama a atenção? Nem mesmo Veronika, uma mulher tão inteligente, percebeu que estava sofrendo ali um ato de machismo – ou o manterrupting. Ela comentou na época: “achei engraçado ver o moderador fazer uma pergunta e depois tentar respondê-la. Nunca entendi como uma atitude sexista. Talvez eu seja muito ingênua, mas dei a ele o benefício da dúvida e interpretei sua atitude como uma demonstração de emoção por tentar entender uma nova teoria”.
Por isso é tão importante debatermos isso. Ao falar sobre essas pequenas violências de gênero e silenciamentos, é como se quebrássemos uma parede. E, a partir de então, fica impossível não perceber o que está ali, diante de nós e, o mais importante, não nos calarmos quando isso acontecer.
Se você quiser ir mais fundo ainda na questão do machismo estrutural, recomendamos a leitura do texto Gaslighting, o que é e como identificar esse tipo de manipulação psicológica.
E, cá entre nós. Você, afinal, já sofreu manterrupting? Se quiser compartilhar aqui, bora lá. Os comentários estão aqui para a nossa comunidade interagir mais e mais e se fortalecer ✊
Tati Barros
Jornalista mineira, com mais de dez anos de experiência. É criadora e apresentadora do podcast Solteira Profissional, que aborda o universo de relacionamentos e sexualidade. Produz conteúdos para diversos veículos e formatos, com foco, especialmente, nas editorias de saúde, bem-estar e comportamento. Tem um grande interesse em pautas feministas e sempre está envolvida com essa temática.